Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Adoecimento bancário

Pesquisa apresentada aos bancos constata violência organizacional

Imagem Destaque
Imagem mostra dirigentes sindicais e representantes da Fenaban sentados em uma mesa comprida em formato de "U", com uma toalha branca. Diante deles, um telão apresenta os números da pesquisa

Cerca de 80% dos trabalhadores do ramo financeiro tiveram pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho em 2023. Deste total, quase metade está em acompanhamento psiquiátrico. O principal motivo apontado para buscar tratamento médico foi o trabalho.

Entre os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas pelo psiquiatra, um percentual que cai para 64,4% entre os que estão em outros tipos de acompanhamentos médicos.

Estes são alguns dos resultados da pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”, que foi apresentada para a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na manhã desta quinta-feira 11.

A pesquisa feita com 5.803 bancários em todo o Brasil foi realizada pela Secretaria de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, em colaboração com pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

Os números foram apresentados à Fenaban pelo Comando Nacional dos Bancários, juntamente com o Coletivo Nacional de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Ainda segundo a pesquisa, o atual modelo de trabalho nos bancos é identificado como uma fonte substancial de psicopatologias, que potencialmente distorcem a subjetividade e os laços sociais dos funcionários, o que resulta em sintomas de adoecimento e agravos à saúde mental.

Bancários cobram respostas para reivindicações

Os representantes dos trabalhadores aproveitaram a reunião para cobrar respostas para as reivindicações apresentadas à Fenaban no último encontro, como a modernização da cláusula 61 da Convenção Coletiva de Trabalho, que trata de prevenção de conflitos, e o fluxo de acolhimento aos trabalhadores adoecidos.

Os bancos pediram um prazo maior para os retornos. A próxima reunião deve ser marcada ainda em abril.

“O movimento sindical tem pressa para a resolução dos problemas que acarretam no adoecimento dos bancários. Estamos falando de saúde, e é desanimador ir a uma rodada de negociação com a promessa de apresentação de propostas, e os bancos não apresentarem nada. Os bancários enfrentam um aumento assustador de doenças psicológicas ligadas ao trabalho, e não é possível que os bancos não se sensibilizem com o que vêm acontecendo. As instituições financeiras são as responsáveis por este quadro adoecedor, e só depende deles o avanço de soluções.”

Valeska Pincovai, secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários de São Paulo e bancária do Itaú

 ‘Ameaças como ferramentas de gestão’

A coordenadora da pesquisa, doutora Ana Magnólia Mendes, explicou que as análises indicam a presença intensa de discursos e práticas de controle, caracterizadas pelo foco nas metas, o controle exacerbado, a despersonalização dos trabalhadores, a presença de uma hierarquia rígida e o uso de ameaças como ferramentas de gestão intensifica, por sua vez, a competitividade e o produtivismo nas relações de trabalho e a presença de vivências de violência no trabalho e de sobrecarga.

“Também a presença intensa de relações competitivas, marcadas pela exclusão dos funcionários na tomada de decisão da organização, pelo cerceamento da autonomia no trabalho, pela distribuição injusta, pela indefinição de tarefas e pela presença de disputas profissionais no local de trabalho estimuladas pela chefia, intensificam a violência no trabalho”, completou Ana Magnólia.

Ainda segundo a doutora, a presença intensa de relações produtivistas, por sua vez, intensifica a sobrecarga no trabalho. “Essas relações produtivistas, conforme descrito pela amostra, são caracterizadas pelo foco em metas, pela cobrança por resultados, pela pressão intensificada pela vigilância de resultados e também pela insuficiência de pessoas para realizar as tarefas que contribui para um ritmo de trabalho excessivo”, afirmou.

“Essas relações produzem as patologias da violência e da sobrecarga, caracterizadas pela presença intensa de vivências de cansaço, desgaste, sobrecarga, frustração, desmotivação, falta de liberdade de expressão e de opções no trabalho, indiferença entre colegas e desconfiança entre chefia e subordinados, as quais aumentam a presença de sintomas de adoecimento marcados por características de transtornos ansiosos”, completou.

seja socio