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Imune a crises, setor financeiro aumenta lucros, eleva tarifas e fecha agências

Linha fina
Os quatro maiores bancos tiveram, somados, lucro líquido de R$ 20,85 bilhões no primeiro trimestre, crescimento de quase 20% em relação a 2018. Cobrança de serviços e tarifas somou R$ 27 bilhões
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Arte: geralt/Pixabay

No primeiro trimestre deste ano, a soma dos lucros de Itaú, Santander, Bradesco e Banco do Brasil, quatro dos cinco maiores bancos do país, alcançou R$ 20,85 bilhões, crescimento de 19,8% em relação ao mesmo período de 2018. Uma das maiores receitas destas instituições é a combinação entre prestação de serviços e tarifas bancárias, que teve arrecadação de R$ 27,2 bilhões. De acordo com a presidenta da Contraf-CUT  e ex-presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, somente com essa receita, esses bancos cobrem mais que o total das despesas com pessoal, variando entre 118% no BB e 195% no Santander. 

Das quatro instituições, apenas o Santander aumentou o número de agências: 28. O Itaú fechou 60 agências físicas e abriu 35 digitais, que agora somam 195. O Bradesco fechou 114 unidades e o BB, 31.

"Apesar do cenário tenebroso na economia nacional, os lucros dos maiores bancos atuantes no país seguem em crescimento e batem recordes bilionários. O lucro líquido das cinco maiores instituições financeiras do país chegou a R$ 85,9 bilhões em 2018, com crescimento de mais de 16%. A rentabilidade destes bancos gira na casa dos 20%, isso significa que a cada cinco anos o lucro dos bancos é capaz de dobrar o patrimônio destas instituições", diz Ivone Silva, presidenta do Sindicato.  

"Precisamos voltar a pensar num sistema financeiro que promova crédito sustentável e barato, ajude a desenvolver áreas prioritárias como habitação, agricultura e educação, e auxilie a economia a retomar o crescimento e gerar empregos. Do contrário teremos um sistema financeiro cada vez mais excludente, concentrador de renda e que funciona cada vez mais como um obstáculo ao pleno crescimento econômico e social do Brasil", acrescenta Ivone.

Emprego

Quanto ao emprego, o comportamento não foi uniforme: o Itaú, por exemplo, tem saldo de 361 vagas em 12 meses, mas fechou 597 postos de trabalho no trimestre. O Santander perdeu 623 vagas. O Bradesco abriu 1.563 – segundo a subseção, devido a contratações na área de negócios – e o BB cortou 1.414.

“O que deveria haver era redução de tarifas, da taxa de juros, porque o cliente está fazendo todo o serviço sozinho”, diz Juvandia. “Com o atendimento digital, ele incorporou grande parte dos custos dos bancos”, reforça. Além de encarecer o serviço para o consumidor, a prática “está revertendo em ganhos para os acionistas”.

No setor público, o cenário é ainda mais preocupante. “O governo tem uma política de desmonte. Não tem compromisso de manter uma instituição pública forte. Está fazendo um desmonte para favorecer o setor privado”, afirma a presidenta da Contraf-CUT. Ela cita manifestação do ministro da Economia, Paulo Guedes, que durante evento recente nos Estados Unidos falou em “fusão” entre BB e o Bank of America. E lembra que a previsão é de abertura generalizada de programas de demissões voluntárias (PDVs).

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Juvandia também aponta consequências negativas para a economia, com restrições, por exemplo, ao crédito rural e à agricultura familiar. “É abrir mão de gerar emprego. Quando você enfraquece um banco público, está falando em alimento mais caro na mesa.”

A carteira de crédito dos quatro bancos somou R$ 2,3 trilhões, alta de 6,9%. Na área de pessoas físicas, os destaques foram empréstimo consignado/crédito pessoal, financiamento imobiliário e cartão de crédito.

Categoria com acordo coletivo nacional, os bancários não terão campanha salarial neste ano, já que em 2018 aprovaram proposta que incluiu reajuste de 5% (inflação mais aumento real) e novo aumento na próxima data-base, também garantindo reposição da inflação e ganho real (1%) para salários e verbas. Periodicamente, mantêm mesas específicas de negociação em temas como igualdade de oportunidades, saúde e segurança.

Uma das preocupações é com o adoecimento crescente de trabalhadores. “Grande parte vem da cobrança de metas. É um dos grandes fatores de adoecimento”, observa Juvandia.
 

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