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Clientes apoiam greve no centro de São Paulo

Linha fina
“Atendo muitos bancários. Eles têm ataque de pânico, desânimo, insônia, irritabilidade, perda de apetite e do prazer de viver", destaca médico psiquiatra
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São Paulo – Agências e departamentos do centro velho da capital, assim como outras regiões de São Paulo e Osasco, entraram no quarto dia de greve na sexta 3 em clima pacífico e com o apoio de clientes. Enquanto serviços de autoatendimento permanecem funcionando, os bancários cruzam os braços para reivindicar, além de salário, melhores condições de trabalho, fim das metas abusivas e das demissões.

A pressão constante e o assédio moral foram destacados no apoio à greve dado por um médico psiquiatra. Ele disse achar “ótimo” haver mobilização. “Atendo muitos bancários. Eles têm ataque de pânico, desânimo, insônia, irritabilidade, perda de apetite e do prazer de viver. O tratamento é feito com medicamento e terapia. Mas, isso não dá conta porque tem que mudar o ambiente de trabalho”, destaca. “Têm muita demanda, muita pressão e poucos funcionários. Eles acabam afastados por depressão”, acrescentou o correntista, que preferiu não dizer seu nome.

“Sou totalmente favorável à greve. É direito lutar por salário melhor. Os bancários são muito cobrados, têm muitas responsabilidades, e precisam se manifestar”, afirmou a fotógrafa Ana Paula Lira, de 36 anos. Para ela, as Comissões de Esclarecimento, preparadas para atender a população em cada local de atendimento paralisado, são uma “estratégia muito interessante”.

Seu pai, de 73 anos, concorda: “As informações das comissões são boicotadas pelos patrões e pela grande imprensa que sempre tenta colocar o povo contra a luta dos trabalhadores”.

Ana explica o apoio: “Greves não pegam ninguém de surpresa, todo mundo tem tempo para se preparar. Certos serviços diretos são afetados, mas, dentro desse contexto, vale a pena se sacrificar e apoiar os bancários. Mesmo por que eles também lutam por melhores condições para atender melhor os clientes”.

O início da greve é divulgado ao empregador e à imprensa com 72 horas de antecedência, por lei.

“Lógico que sou a favor. E assim: pacífica, sem ameaça”, disse Alba de Figueiredo, aposentada de 57 anos. Sua irmã também concorda ao dizer que é preciso ter mais funcionários: “Tem agências que a gente vai e tem cinco caixas, com três vazios. Acho que, para ser mais rápido, tem que colocar mais caixas prioritários, não só um”, sugere Agda, de 48 anos.

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Informatização  – Com a continuidade do funcionamento do autoatendimento e canais alternativos, clientes tendem a apoiar a mobilização, de acordo com o advogado Antônio Carlos, de 46 anos:  “Agora seria interessante uma forma de afetar os lucros dos bancos”, sugere.

Preocupado com a chegada do 5º dia útil, o aposentado ex-funcionário do Banco do Brasil, Evandir, de 67 anos, relativiza a questão ao dizer que “a informática é boa para os jovens, mas as pessoas de mais idade não enxergam e são mais vulneráveis. Os bancos deviam ser obrigados a se preocupar com o idoso, também nesses momentos de greve, que só acontece por culpa das próprias instituições financeiras”, afirma.

O cadeirante Daniel Bispo dos Santos, de 37 anos, apesar de ter uma conta atrasada para pagar, algo feito diretamente nos caixas, também apoia a mobilização: “Se estão lutando também para melhorar atendimento, sou a favor. E outra coisa: os trabalhadores têm que lutar, né? Afinal, cada um sabe a dor que está sentindo.”

Bancários – E a dor é grande e adoece. Por isso, os bancários do centro mostraram que estão de braços cruzados não só por aumento salarial, mas também pelo fim da pressão e do assédio moral.

“Faço greve também pelos colegas que adoecem por causa da pressão no trabalho, que é onde a gente passa a maior parte do nosso tempo”, afirmou uma grevista do Complexo São João do Banco do Brasil.

“O pessoal fica na pilha por causa das metas absurdas. Tinha que ter acordo que determinasse poder ter meta só se pudesse ser alcançada”, declarou um bancário do Itaú Patriarca.

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Mariana Castro Alves – 3/10/2014

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