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Show Medicina nega trotes violêntos na USP

Linha fina
Em depoimento, aluno hoje fazendo residência disse que sempre participou de festas, mas nunca viu desrespeito aos direitos humanos e 'ideias de liberdade são cultivadas até hoje pelo Show Medicina'
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São Paulo – A CPI que apura violência nas universidades do estado de São Paulo, instalada na Assembleia Legislativa, ouviu na terça 27 o depoimento de três membros da instituição conhecida como Show Medicina, tradicional entidade que congrega alunos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e promove espetáculos teatrais cujas práticas foram denunciadas como homofóbicas, machistas e violentas.

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Os depoentes Arthur Danila, Renan Maloni Augusto e Vinícius Diniz negaram todas as afirmações de depoentes anteriores, segundo os quais, nessas festas, realizadas anualmente em outubro em espaços cedidos pela USP, foram vítimas de trotes sendo obrigados a ingerir álcool e ficarem nus em palcos em que são encenadas peças teatrais.  “O Show Medicina é a instituição que mais recebe homossexuais (na USP). É muito estranho ouvir que é homofóbico”, disse Vinícius Diniz, do sexto ano da FMUSP e que participou por quatro anos do Show Medicina.

Arthur Danila afirmou que o Show Medicina é uma entidade cultural “que promove em tom jocoso a crítica aos costumes” e que “tudo é em nome da arte”. Danila já está na residência médica e é ex-presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo (Ameresp) na gestão 2013-2014. Como os colegas, disse nunca ter presenciado violência contra os direitos humanos em seis anos de Show Medicina, mesmo tendo assistido, durante a sessão da CPI, em vídeo, depoimentos feitos à comissão mostrando o contrário.

A CPI mostrou o depoimento de um aluno que relatou ter sido obrigado a se embriagar até perder a consciência, e em consequência disso ter sofrido uma queda na qual sofreu trauma encefálico e perdeu um dente. O vídeo de outro aluno, que denunciou trotes na CPI, relatando discriminação contra sua orientação sexual, também foi exibido. Nenhum dos depoentes na sessão de hoje reconheceu ter presenciado ou ter tomado conhecimento de qualquer abuso.

Eles também disseram desconhecer quem financia as festas do Show Medicina, assim como não têm informações sobre doações particulares para a festa ou de empresas fabricantes de cerveja. Danila declarou que não pode afirmar se a faculdade ajuda ou não no financiamento dessas festas. De acordo com ele, “ideias de liberdade são cultivadas até hoje pelo Show Medicina”.

Renan Maloni Augusto também é do sexto ano. Ele negou todas as afirmações e acusações de que a festa promove violência, como os colegas.

O advogado João Daniel Rassi, contratado pela entidade, disse à imprensa ter ficado “muito claro que, como membros da Show Medicina, eles não viram ou presenciaram qualquer ato de violência física ou de obrigação de ingestão de bebidas alcoólicas, principalmente qualquer ato de homofobia”. Segundo o advogado, os alunos deixaram “clara a presença de todos os gêneros (sexuais) na composição do Show Medicina”.

Pela tradição da instituição, as mulheres, nos eventos, só participam na “costura” (da roupa dos atuantes nas peças, sempre homens), e não das representações. Para o advogado, não há discriminação. “As mulheres participam desta peça num outro tipo de atividade, mas são integrantes do Show Medicina.”

O advogado insinuou uma possível nulidade jurídica da comissão, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT). “A comissão parlamentar de inquérito é investigativa. Quando um membro emite uma posição pessoal sobre determinado depoimento, não tem valor jurídico. O papel da comissão é colher depoimentos. E a partir da colheita dos depoimentos, emitir um relatório, e encaminhar às autoridades”, disse o advogado, ao ser questionado sobre se os depoimentos que denunciam a violência no Show Medicina são “mentirosos”. “Se há mentira nesses depoimentos ou não, se há manipulação política ou não, tudo isso será apurado.”

Ele não entrou em detalhes sobre em que momento poderia ter havido “manipulação”. “Ele está no papel dele e eu estou no meu”, respondeu Adriano Diogo. Os deputados Marco Aurélio (PT), Fernando Capez (PSDB), Sarah Munhoz (PCdoB) e Carlos Bezerra (PSDB) participaram da sessão.


Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 28/1/2015

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