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Maior obra de Alckmin contra seca só em 2017

Linha fina
Transposição do Rio Paraíba do Sul corre o risco de ser inútil se as chuvas não forem intensas, pois o reservatório Jaguari tem hoje somente 19% do volume total de água
Imagem Destaque
São Paulo – Maior e mais cara obra do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para enfrentamento da seca que atinge a Região Metropolitana de São Paulo, a transposição da água do reservatório Jaguari, do Rio Paraíba do Sul, para a represa Atibainha, do Sistema Cantareira, deve ficar pronta somente em abril de 2017. A última previsão era para fevereiro do mesmo ano, mas somente na sexta 2 o governador autorizou a celebração de contrato entre a Sabesp e o consórcio formado pelas empresas Serveng/Civilsan, Engeform e PB Construções Ltda.

A previsão é que a primeira parte da obra seja concluída em 18 meses. Essa parte compreende a transposição de água no sentido Jaguari-Atibainha. O sentido contrário da transferência levará, pelo menos, mais 22 meses para ser concluído, de acordo com o licenciamento ambiental aprovado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, em 26 de agosto. Essas duas ligações permitirão que até 8 mil litros de água por segundo sejam enviados de um lado ao outro, conforme a necessidade. O custo total previsto é de R$ 830 milhões.

A água captada será transportada por uma adutora de 13,4 quilômetros de extensão e um túnel de cerca de seis quilômetros. O sistema também contará com estação elevatória e subestação elétrica para garantir o bombeamento.

A maior preocupação em relação à obra parte dos moradores do município de Santa Isabel, na Região Metropolitana de São Paulo, a 50 quilômetros da capital. A cidade utiliza água do reservatório Jaguari para abastecimento de seus 50 mil habitantes, e os moradores temem que a interligação retire água demais e deixe, novamente, a cidade seca. Em 2014, os moradores chegaram a ficar 35 dias sem água.

"A captação pretendida poderá ser realizada das cotas 623 a 603 do reservatório. Mas hoje nós quase não conseguimos fazer captação para a cidade e estamos na cota 609. Como vamos ter garantia de que não vamos ficar sem água?", questionou o presidente da Associação de Pescadores de Santa Isabel, Jair Simão Ferreira. As cotas são unidades de medida (uma cota = 1 metro) contadas a partir do nível do mar (equivalente a zero).

O reservatório Jaguari está hoje com 19% da capacidade. Com isso, o local em que o município de Santa Isabel faz a captação está no limite. Há um ano, o ponto onde fica a bomba de água do município tinha quase 30 metros de profundidade. Hoje são apenas dois metros de profundidade de água. E, isso, após a construção de uma barragem improvisada. Depois dela, a água corre na forma de um córrego lento, que vai sendo coberto por plantas, ladeado por barrancos de terra seca que podem deslizar para o leito do rio a qualquer momento.

Com esse volume de água, o reservatório não tem condição de auxiliar, em segurança, o Sistema Cantareira, que está com -12,8% da capacidade, operando no volume morto. Isso depois de as represas terem recebido quase o dobro de chuva sobre a média do mês setembro, em 50 anos. E o governo Alckmin corre o risco de realizar mais uma obra para ligar um sistema em crise a outro em igual situação. Como ocorreu com a ligação do Rio Guaió ao reservatório de Taiaçupeba, do Sistema Alto Tietê. Foram gastos R$ 30 milhões na obra, que hoje está parada porque o rio está com o nível baixo demais para que seja feita a captação.

Na quarta-feira 30, Alckmin inaugurou a obra de transposição do braço Rio Pequeno, da represa Billings, para o Alto Tietê. A rede de dutos pretende levar 4 mil litros de água por segundo de uma represa a outra. Porém, a própria inauguração foi adiada da manhã para a tarde do mesmo dia, por conta de vazamentos nos dutos.

Outro problema é o aumento da quantidade de algas – chamadas Cianobactérias – na represa Billings, que podem suspender a transposição. Um monitoramento realizado pela própria Sabesp em agosto indica extrapolação dos limites para presença da alga definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em vários pontos da represa. Na região em que a água será coletada para a transposição foram encontradas 68 mil células de cianobactérias por mililitro de água, um índice 37% superior ao limite do Conama, de 50 mil por mililitro.

Em excesso, essas algas são potencialmente tóxicas, pondo em risco a saúde da população e causando problemas para o tratamento da água. A Sabesp já admitiu a possibilidade de suspender a transposição de água, caso a população de Cianobactérias não diminua na Billings. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) está analisando o reservatório.


Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual - 5/10/2015
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