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“Ou você sai do banco ou vai ter um derrame”

Linha fina
Alerta foi dado pelo médico a uma bancaria do Santander, cuja história revela toda exploração que bancos impõem a empregados
Imagem Destaque
São Paulo – “O banco quer que eu ande bem arrumada, cobra que eu use roupa cara, esteja sempre com cabelo e unha feita, tenha pós-graduação, curso de idioma, mas me paga um salário de R$ 3 mil. E olha que sou gerente Van Gogh [voltado para o segmento de alta renda].  E ainda oferece um aumento menor do que a inflação. Não dá, né.”

Duas semanas e a culpa é dos banqueiros!

Esse foi o depoimento de uma bancária do Santander em agência paralisada do banco espanhol no centro de São Paulo na segunda-feira 19, 14º dia de greve. O desabafo revela a incoerência dos bancos – que exigem muito dos seus empregados sem dar contrapartida financeira –, e a insatisfação dos funcionários com os salários e com o reajuste oferecido pelo setor mais rentável da economia.

> Fotos: agências paradas no centro de SP

“É meta, meta, meta, o tempo todo. Só querem saber o que você vendeu. Não tinha tempo nem de ir ao banheiro. Todo mundo que eu conheço está doente por causa de tanto assédio. Os gestores não sabem ser gestores”, aponta a bancária, revelando outra queixa recorrente: más condições de trabalho.

Ela mesma foi diagnosticada com depressão e está afastada desde o começo do ano. “Fiquei três meses internada em uma clínica psiquiátrica. Minha pressão chegou a 20 por 9. O médico falou, ‘escolhe: ou você sai do banco ou vai ter um derrame e vai ficar para sempre em uma cadeira de rodas’.  Me afastei, minha pressão votou ao normal e a medicação até foi suspensa, mas só de estar falando agora sobre o banco parece que vai explodir uma coisa dentro do meu peito.”

Exploração não tem perdão! – A declaração da gerente atesta que o lema da Campanha Nacional 2015 é justo e pertinente: Exploração não tem perdão! A lógica do setor financeiro, contra a qual o movimento sindical luta, é perversa, e resulta na realidade contada acima: corte de postos de trabalho; que gera sobrecarga aos funcionários remanescentes e é sentida pelo aumento das metas, pressão desmedida, assédio moral; o que desemboca nos adoecimentos.

Segundo o INSS, entre 2009 e 2013, o número de bancários afastados por doença cresceu 40,4%. Os benefícios acidentários por transtornos mentais e comportamentais concedidos a bancários no período cresceu 70,5% (de 2.957 para 5.042).

Em 2013, mais de 18 mil bancários (18.671) foram afastados. Desse total, 27% por transtornos mentais e comportamentais (como estresse, depressão, síndrome do pânico) e 24,6% por LER/Dort.

Somente entre janeiro e março de 2014, 4.423 bancários precisaram se licenciar, sendo 25,3% em função de lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e síndrome do pânico.

Mais trabalho por salário menor – Para aumentar ainda mais seus lucros, os bancos demitem funcionários com salários maiores e contratam outros para as mesmas funções pagando menos.

De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no acumulado dos primeiros oito meses do ano, são 6.003 postos de trabalho a menos no setor.

Os trabalhadores que ingressaram nos bancos em agosto, no entanto, recebem em média 53% do que ganhavam os que foram desligados no mesmo mês.  No acumulado dos primeiros oito meses de 2015, os admitidos receberam 55% do salário dos que deixaram o setor.  

Enquanto isso, o lucro só aumenta: os cinco maiores bancos que atuam no país (Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander) ganharam R$ 36 bilhões só no primeiro semestre de 2015, aumento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Eu me pergunto todo dia se vale continuar aguentando essa pressão por metas em troca do salário que eu ganho”, reclamou uma bancária do Itaú. “Comecei a ter certeza que não depois que vieram com esse reajuste de 5,5%. É o fim.”

“A greve é a única ferramenta que a gente tem para conseguir melhorar esse índice, por isso temos de nos unir e nos mobilizar. Só quando começarem a ter prejuízo os bancos vão aceitar negociar”, afirmou uma bancária da Caixa.  


Rodolfo Wrolli – 19/10/2015
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