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Greve, barbárie e resistência na Torre Santander

Linha fina
Para intimidar organização dos trabalhadores, banco aciona PM, que abusa da truculência ao prender dirigente sindical na primeira vez em que sua matriz tem atividades interrompidas durante o dia todo
Imagem Destaque
Rodolfo Wrolli, Redação Spbancarios
22/9/2016


São Paulo – Um mito foi derrubado no 17º dia de greve: a invencibilidade da Torre Santander, matriz do banco espanhol no país que responde por um quinto do seu lucro mundial.  O colosso de 28 andares onde trabalham 5,3 mil bancários mais 1,7 mil terceirizados teve as atividades interrompidas pela primeira vez na sua história nesta quinta-feira 22.

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60 mil bancários em greve: parou geral!

“Era necessário fechar a Torre, porque é aqui onde pulsa o coração do banco. Fechar a matriz o dia inteiro é uma perda imensurável”, opina uma funcionária. “Sem contar a questão da imagem do banco, que ele se preocupa muito”, acrescenta.

O protesto foi motivado pela intransigência da Fenaban, que não aceita negociar reajuste salarial digno. E a paralisação ocorreu diante da presença ostensiva da Polícia Militar, acionada pelo banco para intimidar a organização dos trabalhadores.

Truculência – Por volta das 9h, soldados levaram algemada para a delegacia a diretora executiva do Sindicato e funcionária do Santander, Maria Rosani, que ajudava na organização do movimento grevista. Quatro PMs, dos quais três eram homens, usaram de violência para imobilizar uma mulher de cerca de 1,60m e 50 anos.

> Santander usa truculência da PM e prende dirigente

A cena gerou revolta entre os bancários. “É uma covardia fazer isso com uma mulher”, gritou uma bancária.  “A coisa mais absurda que eu estou vendo aqui é esse monte de viaturas desviadas para um motivo desnecessário”, indignou-se outra. “Deveriam estar cumprindo seu papel, que é correr atrás de bandido e garantir a segurança da população.”
“Ao invés de ir para a mesa de negociação apresentar proposta digna de reajuste, o Santander chama a polícia para reprimir o direito constitucional de greve”, critica Rosani.

“Recentemente o banco ganhou prêmio de melhor empresa para se trabalhar e é dessa forma que trata seus funcionários”, acrescenta a dirigente, que foi liberada pela depois de prestar esclarecimentos na delegacia.

Momento histórico – A cena digna de uma ditadura não ofuscou a conquista histórica representada pelo fechamento da Torre. Bancários resistiram à intimidação da PM e mantiveram-se firmes na greve.  E motivos para a paralisação não faltam.

“O banco quer que a gente bata 100%, 150% da meta, mas quando é para dar aumento, eles vêm com 7%. Não tenho nem palavras pra descrever esse índice”, protestou um bancário. “Pelos lucros do banco, deveriam oferecer um reajuste muito acima da inflação.”

“Um alto executivo do Santander ganha R$ 590 mil por mês. Um bancário precisa trabalhar mais de dez anos para ganhar o que um diretor recebe em um mês. Esses executivos se autoconcederam aumento de 30% no salário, mas esses mesmos diretores não aceitam dar a vocês um reajuste que sequer cubra a inflação”, lembrou Ramilton Marcolino, dirigente sindical e funcionário do Santander, falando aos trabalhadores da Torre.

“Os ganhos devem de ser mais igualitários. Queremos respeito”, afirma uma bancária. “Respeitem a força de trabalho, porque somos nós que fazemos o crescimento desse banco, então minimamente eles têm de entrar na mesa de negociação com uma proposta decente, e também devem respeitar a população brasileira, que está sofrendo com a greve.” 

Mudanças profundas – Mas a mobilização não é só por salário. A luta é também por mudanças profundas, seja na gestão, seja na mentalidade. “O que mais causa insatisfação é a questão da gestão, que, de um modo geral é muito ruim”, opina uma funcionária. Os gestores não sabem liderar. Cobram as metas com agressividade, muitas vezes são mal-educados, falam alto, falam palavrão. Falta postura”, critica.

“A coisa mais importante é uma mudança de mentalidade”, acredita outra funcionária. “A gente tem que parar de aceitar essa lógica de que a gente trabalha e eles ganham. Temos que começar a pensar de uma forma diferente. As coisas evoluem com o tempo. Quando a gente tomar consciência de que isso tem de ser mudado, vamos começar a conquistar muitas outras coisas que deveriam ser nossas por direito.”
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