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UFABC é denunciada por apoiar vítima da PM em ato

Linha fina
Ministério Público acolheu uma denúncia contra a reitoria por ter ajudado estudante da universidade que perdeu a visão de um olho após estouro de bomba; professores criam abaixo-assinado em solidariedade
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Júlia Dolce, do Brasil de Fato   
21/10/2016


São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) acolheu  denúncia feita contra a reitoria da Universidade Federal do ABC (UFABC) por ter prestado assistência à Deborah Fabri, estudante da universidade que perdeu a visão de um olho ao ser atingida por um estilhaço de bomba durante a repressão da Polícia Militar ao protesto contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no dia 31 de agosto.

> Atingida por bomba da PM perde a visão 

Um abaixo-assinado (clique aqui) em solidariedade à UFABC foi criado pelos professores da universidade na terça 18.

O documento, intitulado Em defesa da democracia, da tolerância e da solidariedade na UFABC, já foi assinado por mais de 1.500 pessoas e tem a meta de acumular 2.5 mil assinaturas em repúdio às atitudes de intolerância e "apelar para o bom senso da comunidade acadêmica".

A denúncia, que os professores acreditam ter vindo de um aluno que compartilhou mensagens de ódio e preconceito nas redes sociais, foi acolhida preliminarmente pelo MPF, que deu início aos procedimentos judiciais contra a universidade.

Ajuda - A acusação diz respeito à atitude de gestores da UFABC de providenciar ajuda a Deborah e aos seus familiares, que viajaram do interior de Minas para São Paulo quando ficaram sabendo da agressão.

A reitoria da universidade providenciou um carro que levou os pais da jovem da rodoviária até o hospital onde já se encontrava internada, e enviou um profissional integrante do quadro de servidores da UFABC para lhe prestar apoio psicológico.

A atitude, que, segundo a gestão, teve um custo de R$ 14 referentes ao combustível consumido pelo carro, foi motivo de acusação por "mau uso" de recursos da instituição e de "desvio" de suas funções. Em um trecho do abaixo-assinado, os professores afirmam se orgulhar "de a universidade ter sido solidária com a dor de um de seus integrantes, prestando ajuda humanitária que era requerida no momento".

"Consideramos que esse tipo de apoio deve ser uma diretriz de ação de UFABC frente à sua comunidade em situações de fragilidade de seus membros, respeitando suas possibilidades institucionais e racionalidade de seus recursos", completa o documento.

Segundo o professor de Relações Internacionais Igor Fuser, "com raras exceções, a comunidade universitária da UFABC – professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes – tem se expressado de diversas maneiras em solidariedade a Deborah e à generosa atitude da Reitoria".

Tatiana Berringer, que também é professora da UFABC e bacharel em Relações Internacionais, a denúncia ao MP faz parte de um contexto repressor contra às origens e valores da universidade.

"A instituição completou dez anos no último mês, mas como qualquer espaço, alguns grupos à direita começaram a crescer na universidade e têm atacado a reitoria, chegando ao ponto de atacar o mínimo apoio que prestamos nesse momento", explicou.

Segundo ela, o grupo que denunciou se chama "Universidade Livre", e tem realizado alguns eventos na universidade, como um com a presença de Kim Kataguiri e Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre, e outro com Luiz Philippe de Orleans e Bragança, um descendente da "família real" no Brasil.

"Eles acusam a universidade de ser doutrinária e esquecem que cada um tem um lado, e que a universidade é um local de debate e disputa de ideias", acrescentou Berringer.

Contexto - Segundo a professora, a situação é um reflexo da disputa política que o país tem passado. "Mais do que isso, a UFABC recebeu muito investimento e ainda precisa crescer para terminar seu projeto, ter o espaço físico necessário. Mas os cortes do governo Temer vão afetar brutalmente a universidade, não apenas nos investimentos, mas no custeio. A expectativa é que, se de fato for aprovada a PEC 241 no Congresso, a UFABC vai fechar no próximo ano".

Uma assembleia realizada nesta quinta-feira 20 aprovou a paralisação dos professores da UFABC a partir da segunda-feira 24, um posicionamento contra a PEC 241.

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