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O povo em defesa dos bancos públicos

Linha fina
População protesta ao lado dos bancários em ato contra as políticas de desmonte da Caixa e do Banco do Brasil promovidas pelo governo Temer
Imagem Destaque
Rodolfo Wrolli, Spbancários
10/2/1017


São Paulo – “Eles estão mandando [bancários] embora para quê? Qual a razão?”, questionou a professora Liz Geld enquanto acompanhava o protesto em defesa dos bancos públicos deflagrado por diversos sindicatos do estado de São Paulo nesta sexta-feira 10, em frente à agência da Caixa localizada no número 1.862 da Avenida Paulista.  

> Fotos: galeria da manifestação
> Vídeo: todos contra ataques a bancos públicos 
> Twitter: detalhes do ato na Paulista

Uma pergunta difícil de responder, já que tanto Caixa como Banco do Brasil apresentaram lucros de R$ 3,45 bi e R$ 7,07 bilhões respectivamente entre janeiro e setembro de 2016. Mesmo assim, as direções de ambas as instituições estão eliminando dezenas de milhares de postos de trabalho por meio de planos de demissão voluntária.

O caso de Liz é um exemplo que ilustra a importância dos bancos públicos. Seus pais são pequenos agricultores e sempre fizeram empréstimos no Banco do Brasil, responsável por 61,3% do crédito agrícola no país. “Eu considero que é necessário ter um balanço entre privado e público. No interior, que banco você tem? Caixa e Banco do Brasil. Eles defendem a população.”

“A política adota pelo governo é a diminuição do papel público do Banco do Brasil, com prejuízo direto para o bolso do consumidor, e uma vez que os bancos privados entrarem no crédito rural, as taxas de juros serão muito maiores do que as subsidiadas pelo BB e, com certeza, o custo será repassado para o consumidor final”, afirma João Fukunaga, diretor do Sindicato e integrante da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB.

Abuso – Dionísio Reis, diretor do Sindicato e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, enfatizou que ao mesmo tempo em que pretende eliminar 10 mil postos de trabalho, o governo está chamando a população para sacar o dinheiro das contas inativas do FGTS. ”Isso vai inviabilizar o atendimento e  precarizar mais ainda a condição de trabalho dos empregados”, criticou.

“Isso é um abuso. Já é muito difícil ser atendida, tenho que ficar sentada esperando um tempão, imagina se mandar esse monte de gente embora”, protestou Sandra Lopes de Albuquerque, outra brasileira que assistia ao protesto dos representantes dos trabalhadores bancários em frente à Superintendência de São Paulo Capital do Banco do Brasil, na esquina da Rua Augusta com a Avenida Paulista.

Sandra é cliente da Caixa e também tem consciência da importância dos bancos públicos. “O povo brasileiro precisa de mais atenção. Os bancos particulares só dão atenção a quem tem mais recursos. Um dia fui pagar uma conta no Bradesco e eles nem me deixaram entrar na agência, fiquei tão estressada que quase tive um infarto. Na Caixa sempre me trataram muito bem. Nós temos a minoria do dinheiro, mas somos a maioria, então precisamos de um banco que dê uma ajuda para a gente comprar uma geladeira, um imóvel.”

“Mandar embora? Fechar agência? E como a gente vai ficar?”, indignou-se a dona de casa Maria das Graças Gerônimo. “Não é a Caixa que financia as casas para o pessoal que depende disso? Eu não dependo, mas tenho que pensar nos que dependem”, acrescentou. “O banco público é o que serve a todos. O banco com pouco funcionário não vai atender bem”, completou seu companheiro, Mario de Lima Correia, em frente à agência da Caixa onde se realizava o protesto do movimento sindical.

Ajuste muito duro – Essa não é a primeira tentativa de desmonte dos bancos públicos promovida por um governo que prioriza o mercado, como lembrou um funcionário do Banco do Brasil em frente a Superintendência da instituição.

“Quem tem menos de 15 anos de banco não viu o que aconteceu nos anos 1990. O pessoal da minha idade tem um pouco mais de consciência das coisas. Cada ano nós éramos cada vez menos, trabalhando cada vez mais”, lembra o funcionário.

“A gente está vivendo uma época muito estranha”, continuou o bancário do BB. “Cinco anos atrás o governo e o banco levaram adiante uma política de expansão de crédito e naquela época o país cresceu, o banco cresceu, mas a economia é cíclica e, quando veio a retração, agora estão tentando fazer um ajuste muito duro, sem levar em conta as condições de trabalho e a vida das pessoas. Tem colega que teve de mudar de cidade depois que a agência fechou.”

A cliente da Caixa Sandra de Albuquerque não segurou a indignação. “O povo brasileiro é desunido, se fossemos unidos, íamos todos para a rua lutar. Tem de pegar aquele Temer. Temos de nos juntar, todos nós brasileiros, e pôr ele para fora. Ele não tem competência.”
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