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É preciso manter quebra do neoliberalismo, diz Dulci

Linha fina
Ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência destacou papel do Estado nas mudanças sociais no Brasil
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São Paulo – No segundo dia de atividades do Congresso Nacional da CUT, 11º Concut, a análise sobre o modelo de desenvolvimento implantado no Brasil a partir da eleição de Lula e a necessidade de aprofundar a ruptura com passado neoliberal deram o tom do debate sobre perspectiva dos trabalhadores para o próximo período.

> Vídeo: matéria especial sobre o Concut

Na conferência Modelo de Desenvolvimento e Papel do Estado, nesta terça 10, Luiz Dulci, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e atual diretor do Instituto Lula, defendeu que as mudanças iniciadas no governo Lula não têm ligação com a política econômica do governo FHC.

“Ao contrário do que foi difundido pela direita conservadora, o que ocorreu nos anos do governo Lula foi a ruptura com o modelo neoliberal do período anterior”, afirmou Dulci. “Como um mesmo modelo teria produzido resultados tão diferentes?”, questionou, ao defender que a resistência das organizações populares e partidos de esquerda ao longo das décadas de 80 e 90 foi o que possibilitou pela primeira vez uma aliança por modelo alternativo ao neoliberalismo.

Para ele, as mudanças estruturais que aconteceram nos últimos períodos foram capazes de desmistificar falsos impasses como forma de sustentar o modelo, a política do Estado mínimo e o sucateamento das empresas que o governo não conseguia entregar à iniciativa privada.

Mitos superados – O mito que opunha estabilidade e crescimento ficou no passado, como a ideia de que não era compatível crescer sem aumentar a inflação. “O governo conseguiu manter o controle da inflação combinado com fortes políticas públicas de crescimento”, esclareceu o ex-ministro. “No período FHC, o Brasil cresceu uma média de 2%, enquanto no governo Lula crescemos o dobro, com baixa inflação e enfrentamento da grave crise de 2008”, completou.

Dulci contestou também o mito de que era necessário optar pela exportação ou desenvolvimento do mercado interno. “A combinação dos dois é possível”, sublinhou, ao relembrar a ampliação das relações multilaterais do governo brasileiro com países da América do Sul, África e Oriente, além do estreitamento das negociações com os EUA e a União Européia. “O Mercosul representa hoje para o Brasil tanto ou mais que a União Européia, o que ajudou o país e o continente a superar a crise, por exemplo. Nem por isso foram deixados de lado a produção e o consumo internos.”

Segundo Luiz Dulci, o discurso neoliberal também apregoou, durante décadas, que o mercado não poderia conviver com a presença de uma política de Estado como indutor e produtor do crescimento. Outro “falso impasse”, ou “clichê”, era o de que não era possível crescer economicamente e ao mesmo tempo distribuir renda – o velho mito de que era preciso primeiro fazer “crescer o bolo” para só depois verificar se era possível dividi-lo.

Segundo avaliação de Dulci, o governo Lula também desmentiu a tese neoliberal da impossibilidade de desenvolver todos os setores e regiões ao mesmo tempo. “Todas as regiões do país cresceram, com uma média maior no Norte e Nordeste para compensar a desigualdade histórica.”

“Foi possível resgatar o papel do Estado e torná-lo capaz de desenvolver políticas sociais antes inexistentes”, defendeu. “Aquilo que não tem lucro imediato, o capitalismo não faz. Daí a importância de um Estado forte”, completou.

O ex-ministro ainda lembrou o papel fundamental do governo e dos movimentos sociais no enfrentamento à crise. “A proposta feita pela CUT ao governo de ampliação do crédito consignado no enfrentamento à crise só seria possível através dos bancos públicos. Se dependesse da Febraban, por exemplo, não seria possível baixar as taxas de juros como estamos baixando.”

É preciso avançar – Apesar de reconhecer as mudanças vividas pelo país nos últimos anos, Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato, aponta para a necessidade de avançar em reformas estruturais para que as conquistas sejam consolidadas e enraizadas na política brasileira, tais como as reformas política e tributária. “Precisamos fazer a reforma política, senão não conseguiremos aprovar uma reforma tributária com esse Congresso que está aí”, exemplificou.  

Para ela, somente a classe trabalhadora é capaz de fazer a discussão dessas mudanças que precisam acontecer. “Precisamos ir para as ruas e forçar o país a fazer esse debate”, defendeu.

De acordo com Luiz Dulci, é necessário a mobilização social para que as mudanças continuem avançando e para que o governo não sofra pressão somente da direita, com perigo de retrocesso. “Um governo de esquerda jamais será prejudicado por pressões populares”, finalizou.

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Tatiana Melim - 10/7/2012

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