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Demanda por metrô 24 horas é grande

Linha fina
Autor de PL que prevê funcionamento ininterrupto dos trens, deputado Marcolino diz que governo tem recursos para atender a essa necessidade da população. PL foi discutido em audiência pública na Alesp
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São Paulo – Pelo menos 250 pessoas ocuparam as cadeiras do auditório Juscelino Kubitschek da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) portando faixas e cartazes que pediam a expansão das linhas e o metrô 24 horas. A audiência pública sobre a ampliação do horário de funcionamento do metrô foi realizada na noite de quarta-feira 20.

“Não há dúvidas de que a demanda existe. Já foi, inclusive, admitida pelo governador Geraldo Alckmin que, em entrevista ao jornal Diário de São Paulo, de 23 de dezembro de 2012, disse que o metrô 24 horas é uma necessidade”, afirmou o deputado Luiz Cláudio Marcolino (PT), autor do projeto de lei 621/2011, que prevê o funcionamento ininterrupto do metrô em todos os dias da semana. Marcolino e a deputada Leci Brandão, autora de outro projeto (PL 379/2011) que determina o metrô 24 horas aos finais de semana, solicitaram a audiência.

O PL de Marcolino foi anexado ao de Leci e tramitam juntos na Alesp. Uma petição em favor dos projetos está à disposição na internet. Até a data da audiência já contava com 90.368 assinaturas.

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“Estamos aqui para estabelecer um diálogo com a sociedade civil, para colher sugestões apresentadas pelos usuários e técnicos e para, a partir daí, construir um projeto que de fato atenda às necessidades da população”, disse Marcolino.

Bancário e ex-presidente do Sindicato, o parlamentar lembrou que diversos trabalhadores cumprem o quarto turno, entre eles atendentes de call center, cozinheiros e garçons. “São Paulo é uma cidade que trabalha 24 horas e com muitos eventos culturais. Temos, portanto, de discutir não só o metrô, mas um transporte 24 horas que atenda essa demanda”, ressaltou Marcolino.

Bancários – Convidada a participar da audiência como expositora, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira (foto à esquerda), destacou que o metrô 24 horas é uma necessidade da categoria. “Fizemos uma pesquisa no final de 2011 e 55% dos bancários responderam que o que mais atrapalha a vida na cidade são os problemas de mobilidade. Somos 138 mil em São Paulo, Osasco e região, dos quais 110 mil moram na capital. Com certeza bancários e bancárias aprovam o projeto, querem o metrô 24 horas e querem a ampliação da rede. E o governo do estado tem obrigação de gerar políticas para melhorar a vida dos trabalhadores e para atender às necessidades da população.”

Sem planejamento – A audiência, segundo Marcolino, também seria o momento para que o governo do estado apresentasse estudos sobre a viabilidade da proposta, mas não foi o que aconteceu. “De 2007 a 2013, a Alesp autorizou R$ 16,8 bilhões para investimentos no Metrô e na CPTM. O volume de receita do Estado aumentou de R$ 118 bilhões em 2009 para 156 bilhões em 2012 e a previsão para 2013 é de R$ 178 bilhões. Ou seja, não faltam recursos.”

Marcolino (foto à direita) disse ainda que todos estão cientes das dificuldades para a implantação do projeto. “Sabemos que não dá para implantar o metrô 24 horas da noite para o dia. Mas o processo tem de ser gradual. Pode começar pelos finais de semana, como requer o PL da deputada Leci, ou mesmo contar com as linhas de ônibus da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e dos ônibus municipais para que façam o trajeto de algumas linhas de metrô que estejam fechadas para manutenção”, propôs o deputado.

“Inviável” – Além de não apresentar o estudo solicitado, o governo estadual mandou apenas um representante à audiência. O gerente de manutenção do Metrô, Milton Gioia, afirmou que o funcionamento ininterrupto inviabilizaria a manutenção dos trilhos e trens. “O metrô funciona até meia-noite, mas de fato fecha à 1h. A partir de 1h as vias são desenergizadas e se começa a efetuar os serviços de manutenção; das 4h as 4h30 os trabalhos são finalizados e os trilhos são energizados. Dez minutos depois as portas são abertas.”

Ele afirmou que, do jeito que foi concebido, é impossível que os trens funcionem por 24 horas nos próximos 20 ou 30 anos. E perguntado se os novos projeto preveem essa possibilidade, Gioia primeiro disse não saber, depois afirmou que as próximas linhas a serem entregues também não foram idealizadas para isso. Sobre a proposta de desligar a energia e fazer a manutenção de uma via enquanto a outra funciona, ele disse que em alguns trechos seria possível, mas na maioria não, pois a energia tem de ser suspensa nas duas vias.

Alternativas – O vice-presidente do Sindviários – Sindicato dos Trabalhadores no Sistema de Operação, Sinalização, Fiscalização, Manutenção e Planejamento Viário e Urbano do Estado de São Paulo –, Luiz Queiros, criticou o governo por falta de planejamento: “O governo faz projeto para quatro anos mas não pensa no plano diretor. Desculpas técnicas temos um milhão, não queremos isso, o que esperamos dos técnicos é que viabilizem o projeto. Governo não tem de dar desculpas, tem de dar resultados.”

O secretário de comunicação da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro), Ciro Moraes, disse ser favorável ao metrô 24 horas, mas disse que do jeito que o sistema foi pensado e construído, isso inviabilizaria a manutenção. Para ele, falta investimento. “O projeto é muito bom, mas para colocar em prática teríamos de ter muito mais linhas de trem e contratar muito mais. A histórica crônica de negligência do governo em ampliar as linhas não permite que façamos o transporte seguro das pessoas por 24 horas. Se não tiver uma manutenção preventiva diária, qualquer falha seria fatal.”

Também convidado a dar sua opinião, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e ex-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Onofre Gonçalves, defendeu que pelo menos o sistema funcione por 24 horas nos finais de semana, como propõe a deputada Leci Brandão. “Tenho 35 anos de Metrô, portanto, acho que esse projeto (de Leci Brandão) pode ser o primeiro passo. Os técnicos podem dizer que não, mas há condições, pois a manutenção no fim de semana é mais leve e muito simples”, opinou.

O presidente do Metrô, Peter Walker, e o secretário dos Transportes Metropolitanos do governo de São Paulo, Jurandir Fernandes, foram convidados, mas não compareceram à audiência pública.


Andréa Ponte Souza - 21/3/2013

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