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Da resistência ao governo popular

Linha fina
Militante bancário desde a retomada do Sindicato, vaccari conduziu a entidade nos tempos difíceis do neoliberalismo até o Brasil mudar com um trabalhador na Presidência da República
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São Paulo - Maio de 1978. A oposição bancária se organizava para uma greve em meio à ditadura e João Vaccari Neto passou no concurso para trabalhar como escriturário no Banespa, situado à época na Praça do Patriarca. Aos 19 anos tinha deixado sua cidade, Lucélia, região do centro-oeste paulista, para trabalhar na capital.

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“Assim que entrei na agência conheci inúmeros militantes resistentes à ditadura militar. Eu já gostava desse embate político. Então veio a convivência com eles, os debates em assembleias e a luta para tirar a pelegada do Sindicato”, lembra, ao destacar que já em 1978 participou do processo junto à oposição para conquistar o Sindicato, conhecido na história da entidade como “a retomada”.

“Na apuração de 1979 tínhamos medo de que os pelegos apagassem a luz e compramos lampiões. Lembro da assembleia na Casa de Portugal, com mais de três mil pessoas, das quais 90% nos apoiavam. Conseguimos trocar a mesa que conduziria a assembleia, o que na prática destituía a diretoria do Sindicato na época”, relata.

Com a posse da oposição em 1979, Vaccari entrou definitivamente para a militância sindical. Participou da fundação da CUT onde foi tesoureiro, secretário-geral, secretário de Relações Internacionais e vice-presidente – e do Partido dos Trabalhadores (PT). Presidiu o Dieese (Departamento Intersindical de Estatís ticas e Estudos Socioeconômicos) de 1989 a 1990.

No Sindicato, Vaccari assumiu interinamente a presidência em 1998, cargo para o qual foi eleito em 2000 e ocupou até 2004. Atualmente, é secretário de Planejamento e Finanças do PT. “Faço o que faço porque gosto da militância e do debate político com os trabalhadores.”

Como você chegou à presidência do Sindicato?
Quando a diretoria foi deposta em 1983 eu era o tesoureiro do grupo de resistência para manter a luta. Organizava rifas para conseguir dinheiro. Quando houve a eleição de 1985 entreipara a diretoria como tesoureiro.

Depois, entre 1988 e 1991, fiquei fora da chapa e passei a organizar os bancários nacionalmente. Em 1991, voltei e fui para a CUT em 1994, onde também fui tesoureiro. Em 1998, o Luiz Gushiken encerrava seu mandato de deputado federal, o Ricardo Berzoini (presidente do Sindicato entre 1994 e 1998) acabara de se eleger para o parlamento e me convidou para assumir a presidência.

Como foi a resistência contra a privatização do Banespa?
A defesa do Banespa foi decorrência de várias lutas que o Sindicato e a CUT travaram contra a política de Fernando Henrique Cardoso, como a reforma da Previdência; a privatização da Vale do Rio Doce e da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional); a retirada de direitos dos trabalhadores; a entrega da economia ao capital internacional na mais completa subserviência ao mercado mundial. E o Banespa estava dentro dessa política de privatização.

O governo havia incluído a entrega do banco em uma das cartas de intenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) e também no Plano Nacional de Desestatização. No entanto, existia um bloco muito resistente em defesa do banco, com entidades organizadas, personalidades e funcionários mobilizados. Ninguém queria a privatização do Banespa, tanto é que o governa dor Mário Covas (1995-2001) tinha o compromisso conosco de não privatizar.

FHC disse ao Covas que, para ficar com o banco, o estado tinha de pagar R$ 15 bilhões, sendo que na avaliação de mercado valia R$ 3 bilhões. Depois foi vendido ao Santander por R$ 7 bi. O Covas nos chamou para uma reunião e disse que o governo não tinha como suportar um gasto de R$ 15 bi. Depois mudamos o foco e passamos um novo período de enfrentamento com o Santander. Ao todo essa luta durou mais de dez anos incluindo a defesa do Banespa e posteriormente dos trabalhadores do Santander.

É possível fazer um paralelo entre a década de 1990 e os dias atuais?
Nos anos 1990 era uma política de resistência para defender o que tínhamos, pois era um ataque muito forte aos direitos adquiridos. Não havia muito tempo de se colocar nada propositivo. Depois, a partir de 2003, com a geração de mais empregos e a estabilização da economia, o espaço é aberto para discutir outros assuntos, o que até então não era possível, como a questão do assédio moral, da política para as mulheres, além de outros direitos.

No período de FHC, a Caixa Federal era dirigida pelo pessoal do PFL (hoje DEM) e não tinha conversa, eles simplesmente não reconheciam o Sindicato e não queriam negociar. O Banco do Brasil estava nas mãos do PSDB e só negociava com a Contec, da qual não fazíamos parte, pois tínhamos criado recentemente a Confederação Nacional dos Bancários (a CNB, que representava, de fato, 80% dos bancários).

Com o Lula, as centrais sindicais passaram a ser reconhecidas e houve o reconhecimento do Sindicato pelos bancos federais, que passaram a integrar a mesa única de negociação com a Fenaban. Em 2004, o Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) passou a proteger a todos. Se você fecha um acordo o banco tem de seguir e não fazer uma média e rebaixar o índice.

Quais as principais conquistas dos bancários nesses anos em que você acompanhou a luta do Sindicato?
A organização no local de trabalho e o fim das intervenções nos sindicatos. No que se refere à categoria bancária, foi a CCT nacional, um instrumento que evita a guerra fiscal, pois tanto o bancário do Piauí quanto do Rio Grande do Sul têm os mesmos direitos. Em outros setores, uma empresa pode decidir mudar de local para economizar com salários. A partir da CCT, os bancos podem ir para qualquer lugar que os bancários têm os mesmos direitos.


Jair Rosa, Cláudia Motta e Tatiana Melim - 8/5/2013

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