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Ninguém na Verbo entrou para trabalhar

Linha fina
De forma inédita, 100% dos funcionários de uma das maiores concentrações do Banco do Brasil paralisam as atividades contra abusos, desrespeitos e reajuste salarial sem aumento real
Imagem Destaque

São Paulo – A greve chegou ao Complexo Verbo Divino do Banco do Brasil de maneira avassaladora. A concentração que engloba os setores de TI, central de atendimento, cofre e administração predial foi fechada em sua totalidade nesta quinta-feira 26, oitavo dia de greve, e seus funcionários, especialmente os terceirizados, aderiram à paralisação de forma enfática, mesmo sob a coação dos supervisores.

> Fotos: galeria da greve na Verbo
> Vídeo: reportagem sobre a paralisação

“Trabalho aqui há mais de 20 anos e nunca vi isso”, resumiu um funcionário que cuida da limpeza do prédio. Ele é um dos cerca de 1,2 mil terceirizados de um total de 2,2 mil funcionários do local.

O prédio pode ser enxergado como um retrato do mundo do trabalho, hoje. Em um lado estão os contratados diretos, os bancários de carreira do banco público, com direitos e conquistas da categoria garantidos pelas lutas de outras campanhas salariais, mas que se encontram sob constante ameaça. Do outro, os terceirizados e a precarização que este regime de trabalho acarreta.

“As coisas aqui só tendem a piorar para acompanhar a realidade encontrada nos outros bancos”, diz uma bancária, que denuncia o acúmulo de função causado pela diminuição dos quadros profissionais. “Éramos cinco na minha equipe. Hoje somos dois. Tenho que fazer o meu trabalho e do meu supervisor que está de licença”, conta.

“Quebrou a perna” – Outro bancário de carreira cita os prejuízos acarretados pelo plano de cargos e funções imposto pela direção do BB sem negociação, que diminuiu as verbas salariais em média em 16%.  “Quebrou a perna de boa parte do pessoal. A gente tem família para sustentar. Ter perdas salariais a essa altura do campeonato fica pesado”, diz o funcionário com mais de 20 anos de casa.

Uma bancária lembrou a sempre presente pressão por metas. “O negócio é feio. Eles te fazem vender até a alma”. Outro funcionário corroborou. “Se, durante o atendimento, eu não ofereço produtos ao cliente, sou pontuado negativamente.”

Sobre o aumento de 6% proposto pelo banco, o sentimento é de indignação geral. “Nós somos cobrados para cumprir metas, participamos da construção do lucro do banco e ele oferece esse aumento que é uma piada”, disse um bancário da área de TI.

Outro funcionário lembra o lucro de R$ 10 bilhões no primeiro semestre de 2013. “Foi recorde, então não tem desculpa para não dar um aumento decente. Se há tanta cobrança por metas, tem que ter um retorno à altura. Nós, bancários de base, que fazemos a captação diária com o cliente.”

Desrespeito e revolta – Se os funcionários do BB estão indignados, os terceirizados estão revoltados. Uma funcionária da TMKT, empresa de call center contratada, desabafa. “A gente ganha metade do que ganham os bancários, só que fazemos o mesmo serviço, trabalhamos no final de semana e o vale refeição é de R$ 7,50. Por aqui é tudo muito caro, tenho que almoçar uma coxinha”.

Ela continua: “os lucros do Banco do Brasil nunca vêm para a gente. Trabalho há três anos aqui e a PLR sempre foi de R$ 80, não importa se o lucro aumentar. E você tem o dia descontado se tiver faltas, mesmo justificadas. Teve um ano que tive cinco faltas, todas justificadas, e recebi R$ 18 de PLR.”

A lista de desrespeitos continua. “Você tem desconto no salário se tiver que faltar para levar o filho ao médico”, conta outra terceirizada.

Polícia – A adesão à paralisação gerou reação. A PM foi acionada, mas isso não intimidou os funcionários, que resistiram apesar da imtimidação que a simples presença da polícia causa. Cartazes empunhados pelos terceirizados expressavam as reivindicações. “Exigimos respeito” e “Queremos direitos iguais” podiam ser lidos inclusive pelos supervisores da TMKT, que ansiavam desrespeitar o direito de greve.

Ação Civil – Durante a paralisação, foi anunciado que o Sindicato vai entrar com uma ação civil pública para os funcionários terceirizados. “Queremos comprovar que eles fazem o mesmo trabalho dos bancários do BB e por isso devem receber salário de bancários”, afirmou o secretário executivo do Sindicato Ernesto Izumi.

Uma terceirizada resumiu o espírito de luta presenciado neste oitavo dia de greve dos bancários em frente ao Verbo Divino.  “Se a gente quiser alguma coisa, temos que ir atrás dos nossos direitos e protestar, fazer ouvir a nossa voz”, afirmou.

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Rodolfo Wrolli - 26/9/2013

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