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Luta contra a ditadura marca vida de ex-dirigente

Linha fina
Presidente do sindicato de Taubaté em 1964, Marcus Flávio Pompeu, o Pompeu, foi cassado, preso e transferido sumariamente pelo Banco do Brasil
Imagem Destaque

São Paulo – Marcus Flávio Pompeu é mais um exemplo entre os milhares de brasileiros perseguidos pela ditadura militar que imperou por duas décadas no Brasil.

Pompeu, como era chamado pelos amigos, nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 21 de setembro de 1930, mas foi em São Paulo que construiu sua militância política ao se filiar ao Partido Comunista Brasileiro. Concursado pelo Banco do Brasil, tomou posse no Rio de Janeiro e depois se transferiu para Taubaté, na qual foi um dos fundadores do sindicato dos bancários local.

Esses dois ingredientes – ser integrante do “Partidão” e dirigente sindical – foram suficientes para que ficasse na alça de mira dos militares, logo após o golpe.

Em 1964, Pompeu presidia o sindicato de Taubaté e teve o mandato cassado, foi preso e, posteriormente, transferido sumariamente pelo Banco do Brasil para a cidade de Aquidauana, no Mato Grosso do Sul,  a mais de 1,2 mil quilômetros de Taubaté.  Aliás, a mudança de funcionários do BB para lugares distantes era prática comum, objetivando desarticular toda e qualquer forma de resistência ao regime.

Na nova agência, no entanto, ficou pouco mais de três meses, pois foi demitido pelo Banco do Brasil.

Soliban – “Como a repressão era cada vez maior, em vez de São Paulo ele decidiu voltar para o Rio. Lá não desanimou e passou a viver na clandestinidade, chegando a abrir com outros militantes comunistas uma loja de roupas para homens de nome Soliban, Solidariedade Bancária. Embora fosse fonte de renda, o local servia mesmo como ‘aparelho’, no qual se reuniam as pessoas que faziam oposição à ditadura. Quando perceberam que seriam descobertos pelos militares fecharam o local”, afirma a jornalista Fernanda Pompeu, que tem farto levantamento sobre a história do pai.

Fernanda relata que Pompeu retornou a São Paulo em meados dos anos 1970 e para sobreviver tornou-se livreiro para divulgar apenas obras marxistas, anarquistas, entre outras do gênero. Com sua inseparável boina, montava barracas de venda em universidades – como a USP e a PUC –, chegando a abrir uma livraria em galeria na Rua São Bento que era frequentada por colegas do BB e outras pessoas que conheciam sua história de resistência.

Afinal, a anistia – Somente em 1979, quando foi promulgada a lei da anistia que garantia o retorno dos exilados políticos ao Brasil, restabelecia direitos políticos e a volta ao local de trabalho dos servidores excluídos é que Pompeu pode reassumir seu cargo no Banco do Brasil, tomando posse na agência Centro – hoje conhecida como Complexo São João.

“Lembro que ele era bem comedido, mas jamais deixou de participar da atuação do Sindicato. Seu retorno ao banco coincidiu com a eleição da nova diretoria da entidade, na chamada Retomada. Pompeu estava sempre presente nas assembleias e nos dava bons conselhos”, afirma o ex-dirigente sindical e funcionário aposentado do BB Genésio dos Santos Ferreira.

> Os anos de chumbo e a retomada
> Vídeo: Pompeu denuncia truculência dos militares na ditadura

Luta continua – Ao se aposentar no início dos anos 1980, Pompeu se mudou com a esposa para a cidade litorânea de Itanhaém. “A aposentadoria não tirou dele a vontade de tornar sonhos em realidade, que sempre foi uma marca em tudo que fez. Assim, foi um dos fundadores do PT de Itanhaém. As primeiras reuniões eram em nossa casa, na de outras pessoas, nem sequer tinha sede. Foi presidente do PT na cidade por dois mandatos e depois permaneceu como presidente honorário”, relata Fernanda.
Pompeu faleceu em 10 de novembro.

Comissão da Verdade – “Subversivo e perigoso.” Segundo Fernanda Pompeu foram esses os termos encontrados sobre seu pai nos arquivos do DOI Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), órgão repressor do exército durante a ditadura.

Com o objetivo de resgatar a memória dos bancários, dirigentes, perseguidos, presos – como Pompeu – torturados e mortos durante a ditadura militar, o Sindicato estabeleceu uma Comissão da Verdade que buscará esclarecer fatos obscuros que envolvem a perseguição estatal ao movimento bancário e seus trabalhadores no período. Os trabalhos serão baseados nos depoimentos de trabalhadores e dirigentes que viveram o regime militar. A partir deles, a comissão vai traçar uma linha do tempo que jogará luz sobre os acontecimentos entre 1964 e 1985.

Leia mais
> Sindicato estabelece a Comissão da Verdade


Jair Rosa - 28/11/2013

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