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Venda casada é prática de assédio no BB

Linha fina
Banco coage funcionários a realizar contratações de empréstimo com seguro sem esclarecer cliente. Sindicato cobra punição e fim da prática
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São Paulo – “Você não entendeu o que eu falei aquele dia? Não é para você dar opção!”. Foi como um gerente de negócios do Banco do Brasil chamou a atenção de um bancário para que ele parasse de informar aos clientes que, ao fazer empréstimos, havia possibilidade de não contratar o seguro prestamista – que paga as parcelas restantes da dívida, caso o contratante faleça.

“Quando você contrata o CDC (crédito), você já coloca (o seguro). A transparência não está levando a gente a lugar nenhum! Não fica dando opção!”, manda o gerente por telefone.

O funcionário do BB informava aos clientes que não era obrigatório contratar o seguro. Como fazia um volume alto de operações, foi notado. Assim, o trabalhador, que estava em um posto de atendimento, foi transferido para a agência Previdência, localizada no prédio do INSS, no viaduto Santa Ifigênia, sendo depois enviado novamente para o posto de atendimento. Ao ser mandado de um lado para o outro, foi informado por um dos gerentes que o motivo era sua “postura”.

O bancário, atualmente afastado por doença psiquiátrica relacionada ao assédio moral, gravou as ordens e denunciou ao Sindicato, ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério Público Federal.

Representantes do Sindicato denunciaram o caso ao banco, conforme cláusula de acordo de prevenção de conflitos, que dá prazo de 45 dias para o banco se pronunciar.

“Já faz quase dois meses e o BB não deu explicações. Por isso estamos aqui hoje para cobrar punição e o fim do assédio, das metas abusivas e das vendas casadas”, disse o diretor do Sindicato Claudio Rocha (foto abaixo), em manifestação em frente à agência Previdência, na segunda-feira 21.

Os processos abertos pelo trabalhador estão em andamento e consumidores lesados já se dispuseram a ser testemunhas. “Um dos clientes me contou que recebeu ligação de um gerente que disse para não levar em consideração o que eu falava, porque eu era louco”, conta o bancário vítima de assédio.

De acordo com denúncias, seus colegas também estariam sendo coagidos a, caso chamados, negar imposição de realização de venda casada.

Vidas prejudicadas – A orientação vinha também da gerente-geral: “Você não está chamando atenção para o seguro. É o modo de abordar... Não dá para argumentar, porque ele (o cliente) não vai aceitar”, é o que diz, conforme gravação.

Para o bancário de 38 anos, que há dez trabalha no BB, a ordem de inserir a venda do seguro nos empréstimos sem perguntar ao cliente fere sua integridade. “Para mim, ia ser muito difícil fazer isso porque tenho meus valores”, conta o funcionário que hoje toma antidepressivos e está vivendo um momento de crise no casamento.

“Minha família é uma das coisas mais importantes que tenho. Essas coisas afetam a vida pessoal dos funcionários. O banco não pode fazer isso, fala com voz embargada o pai de três filhos.

Segundo o dirigente sindical Ernesto Izumi, há outros funcionários adoecidos na agência Previdência. “Os clientes devem ser informados da existência de vendas ilegais e das taxas abusivas para que possam exercer sua cidadania, sendo solidários com os bancários”, explicou, no protesto no viaduto Santa Ifigênia.

A venda casada é proibida pelo artigo 39, do Código de Defesa do Consumidor.

Por assédio moral organizacional, o Banco do Brasil foi recentemente multado em R$ 5 milhões na Justiça do Trabalho do Piauí. A investigação começou em janeiro de 2013 pela Procuradoria do Trabalho, que recebeu denúncia do sindicato dos bancários daquele estado.

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Mariana Castro Alves – 21/7/2014

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