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Bancos "arrancam o couro" dos terceirizados

Linha fina
Trabalhadores de empresas de call center denunciam rotina brutal de desrespeito que envolve salários miseráveis e péssimas condições de trabalho; Justiça condena instituições financeiras por intermediação ilícita de mão de obra
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São Paulo – Banheiros imundos, insetos, ratos e pombos no refeitório, ar-condicionado em péssimo estado, ameaças, pressão desmedida pelo cumprimento de metas abusivas, assédio moral, desrespeito às pausas de descanso e salários muito baixos. Essa é a rotina de trabalho dos funcionários terceirizados que, por meio da empresa de call center Atento e outras, prestam serviços para os maiores bancos do Brasil.

Os terceirizados realizam tarefas exclusivas de bancários, como venda de produtos, concessão de crédito e cobrança, têm acesso aos dados bancários dos clientes, mas ganham muito menos do que o piso da categoria, atualmente em R$ 1.796,45. Essa prática é caracterizada como terceirização da atividade-fim e é considerada fraude pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

“Não posso fazer trabalho de bancário recebendo R$ 800. Fui contratada para fazer cobrança, mas sou obrigada a vender produtos. Não trabalho para o Itaú, mas tenho que fazer acordo, argumentar para vender”, relata uma trabalhadora da unidade Belém. “Reclamei com a gestora e ela me ameaçou, falou que se eu não produzisse mais ia me demitir. O banco ameaça a Atento e a Atento ameaça a gente. No mês passado consegui R$ 300 mil para o Itaú e não recebi nem 10 centavos de comissão. Eu me sinto com se fosse uma escrava que trabalha por um prato de comida”, desabafa a funcionária.

A comissão – conhecida como variável –, aliás, é uma ilusão para muitos daqueles trabalhadores, segundo relatos. “Qualquer coisa é motivo para pontuação negativa, como sair do sistema para ir ao banheiro, a ligação cair no meio do atendimento ou a secretária eletrônica atender. Com isso não recebemos a variável”, conta outro terceirizado também do prédio localizado no bairro do Belém, na zona leste da capital paulista.

As condições físicas de trabalho também são deploráveis, segundo as denúncias, com banheiros imundos, pragas e infraestrutura precária. “Vira e mexe quebra o ar-condicionado, o calor fica insuportável, a gente passa mal. O sistema é lento, vive caindo”, lembra um trabalhador.

“Tem barata e pombo no meio do refeitório, o banheiro é imundo, o prédio em que a gente trabalha quase não tem janelas, o carpete é sujo, tem todo aquele pó, a gente cansa de ficar doente”, afirma uma colega.

Justiça – As péssimas condições de trabalho conferidas aos funcionários da Atento já motivaram punições na Justiça. O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro condenou o Bradesco por terceirização ilegal, obrigando-o a contratar diretamente todos os trabalhadores da Atento e demais prestadoras de serviço que realizavam atividades bancárias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil por cada trabalhador. Multa idêntica foi arbitrada à Atento, que ainda está proibida de prestar serviços bancários naquele estado. Cabe recurso.

Para reforçar a ação judicial em andamento no TRT do Rio de Janeiro, o Sindicato vai informar àquela corte sobre a situação dos trabalhadores terceirizados em São Paulo e também a respeito de uma ação civil pública em andamento contra a Atento na 51ª Vara do Trabalho de São Paulo que trata da mesma matéria. O objetivo, segundo o secretário Jurídico do Sindicato, Carlos Damarindo, é que os bancos e as empresas interrompam essas atividades ilegais.

“Essas empresas são de faixada. Por fora é tudo muito lindo, mas por dentro é pão bolorento. Os trabalhadores se iludem pensando que estão em uma grande empresa, mas a realidade é bem diferente.”

O Sindicato acionou o Ministério Público do Trabalho (MPT) paulista, que está realizando uma ação conjunta com a entidade para acabar com essas práticas ilegais. “O trabalhador terceirizado deve procurar o Sindicato dos Bancários ou o Ministério Público do Trabalho e informar sobre sua situação. Quanto mais gente nos procurar e relatar denúncias, mais possibilidade de sucesso terão as ações na Justiça”, orienta Carlos Damarindo.

Para acionar o Sindicato ligue 3188-5200 e peça para falar com a Secretaria Jurídica. A ação no MPT tem o número 0000058-46.5.02.0008.

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Rodolfo Wrolli – 15/12/2014
*Atualizada às 11h22 de 18/12/2014

 
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