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Produção industrial tem de crescer, diz Sérgio Nobre

Linha fina
No terceiro painel da conferência nacional falaram também o economista Fernando Nogueira da Costa, sobre desigualdade no mundo, e o comerciário Alci Matos Araújo
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São Paulo - O secretário geral da CUT Nacional e coordenador de Macrosetores, Sérgio Nobre, falou nesta sexta-feira 31, no painel sobre Estrutura do Sistema Financeiro Nacional da Conferência Nacional dos Bancários, a respeito da importância de integrar produção e sistema financeiro no Brasil. Segundo ele, o grande desafio hoje do país é aumentar a produção industrial, que sofreu um declínio considerável nas três últimas décadas. "Há 30 anos a indústria representava 30% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje representa 10,9%".

Fotos: galeria do primeiro dia de conferência

Esse declínio, na avaliação de Nobre (foto ao lado), é preocupante, porque o nível de produção está diretamente ligado ao padrão de vida dos seus habitantes. "Sem ter uma indústria forte, não conseguiremos criar condições para o Brasil desenvolver e dar melhores condições de vida ao nosso povo".

O secretário geral da CUT disse ainda que, enquanto a produção industrial vem caindo, o comércio cresceu de maneira extraordinária a partir de 2003, graças a política de melhor distribuição de renda e expansão do crédito.

No entanto, o crescimento desse segmento se deu, principalmente, por conta do abastecimento por produtos importados. "O ideal é que os dois setores, indústria e comércio, caminhassem juntos".

Segundo Sérgio Nobre, o sistema financeiro teria um papel importante na promoção do desenvolvimento industrial, mas não tem interesse, porque ganha dinheiro com especulação e não está preocupado com a geração de empregos e crescimento do país. Ao contrário, lembrou, ele, os bancos, apesar dos lucros exorbitantes que têm obtido, estão cortando posto de trabalho.

Nobre defendeu a realização de um grande debate convocado pelos trabalhadores do sistema financeiro, que reúna representantes de outros setores com o objetivo de criar propostas para mudar o sistema financeiro. Para o representante da CUT, é importante também a participação dos trabalhadores no Comitê de Política Monetária (Copom). "Essa é uma reivindicação nossa. Queremos debater a política de juros adotada no País".

Desigualdade - O economista Fernando Nogueira da Costa, professor da Unicamp, chamou atenção para o tamanho da desigualdade no mundo. "As 85 pessoas mais ricas no mundo detêm o mesmo que metade da população do planeta. Além disso, 20% vivem com menos de um dólar por dia e 40% com apenas dois dólares por dia. Ou seja, esse não é só um problema do Brasil."

Mas o economista chamou a atenção para a ausência de taxação de grandes fortunas no Brasil e em outros países de economia emergente do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). "Os países desenvolvidos como Alemanha, França, Inglaterra têm impostos sobre grandes fortunas, que é uma das formas de promover mais justiça social. Mas economias emergentes como Índia e China não", comparou, acrescentando que uma forma de evitar a fuga de capital para paraísos fiscais seria a adoção da taxação de riqueza por todos os países do mundo.

O professor também destacou que, nos últimos 12 anos, o crescimento do salário médio real no Brasil foi de 17%, enquanto o do capital foi de 130%. Mas a bancarização aumentou: passou de 75 milhões em 1999 para 200 milhões no final de 2014.

Além da bancarização, Nogueira apontou a educação financeira como fundamental para todo trabalhador. "Todos que quiserem manter seu padrão de vida após a aposentadoria teriam que ter algum tipo de conhecimento do mercado financeiro", disse.

Comerciários - No mesmo painel, Alci Matos Araújo, presidente da Conferência Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT), expôs aos bancários os impactos da expansão do Sistema Financeiro Nacional para dentro do setor comercial.

"Na tentativa de ampliar os lucros, os bancos têm buscado, cada vez mais, o comércio e seus serviços agregados para atuarem como correspondentes bancários. Esse processo de terceirização transforma lojas e supermercados em vendedores de produtos financeiros, agentes e promotores de crédito", resumiu.

Segundo Araújo, o processo de terceirização, na forma como tem acontecido, se traduz em precarização para a categoria, por vários motivos: enquanto os bancos encerram o expediente às 16h, o comércio recebe os boletos até as 21h. Já os bancários possuem negociação coletiva nacional, com piso de R$ 1.638,62 para jornada de 6 horas, enquanto os comerciários fazem negociação individual, com piso médio de R$ 870 para uma carga horária de 44 horas semanais. Até os programas de remuneração e PLR dos trabalhadores no comércio e serviços inclui o cumprimento de metas financeiras.

"Diante da imposição dos métodos utilizados pelos bancos, os comerciários são expostos a metas exageradas para vendas casadas, de produtos normais e financeiros. Isso coloca seus empregos em risco e reduz o valor das comissões recebidas, além de provocar adoecimento e demissões", resumiu. "Por isso, somos radicalmente contra a precarização gerada pelo processo de terceirização".

Ao final, o presidente da Contracs-CUT conclamou bancários e comerciários a se unirem: "Acreditamos que a unidade destas duas categorias é o principal meio para fortalecer nossa ação sindical e garantir os avanços nos direitos da classe trabalhadora. É preciso uma ação mais contundente de todos nós, pois as mudanças só acontecem com mobilização!", concluiu.

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Andréa Ponte Souza, Andréa Viegas e Renata Ortega, da Rede Nacional de Comunicação dos Bancários - 31/7/2015

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