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Sete presidentes à frente de 34 anos de lutas

Linha fina
Integrantes do movimento sindical bancário abordam desafios após a retomada da entidade em 1979
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São Paulo - O último ato do evento que abriu oficialmente as comemorações pelos 90 anos do Sindicato se deu com a presença dos ex-presidentes da entidade ainda vivos – com exceção de Luiz Gushiken – e da atual presidenta, Juvandia Moreira, que fechou a solenidade.

O primeiro a discursar foi Augusto Campos, eleito em 1979 encabeçando chapa de oposição e inaugurando o período chamado de "retomada" por causa do retorno das lutas pelos direitos dos bancários e contra a ditadura militar. O ex-presidente ressaltou que um dos primeiros passos para a criação da CUT se deu durante seu mandato, o qual sofreu intervenção por vinte meses.

 “Eu acredito que a nossa cassação se deu por causa de dois passos bem concretos: primeiro porque tínhamos ousado paralisar o Bradesco, em Osasco, uma das poucas vezes em que fechamos a Cidade de Deus. E, segundo, por termos feito convocação para uma greve geral e para criação da CUT”, lembrou Augusto.

A falta se deu com Luiz Gushiken, que não compareceu por motivo de saúde. O China, como era conhecido no movimento sindical, foi presidente entre 1985 e 1988, mas se licenciou em 1986 para tomar posse como deputado federal constituinte. Mesmo ausente, sua participação na solenidade foi garantida por meio de um vídeo no qual, dentre outras passagens, lembrou da participação da categoria na luta pela volta da democracia.

“Aquele movimento vitorioso [retomada] permitiu que centenas de outros sindicatos, bancários ou não, se revitalizassem, e os lemas que utilizávamos na eleição eram: ‘abaixo a ditadura’, ‘pelas liberdades democráticas’, não eram palavras de ordem tipicamente sindicais, mas que faziam parte do contexto político nacional onde se deram os desdobramentos para as eleições diretas.”

Presidente do Sindicato entre 1988 e 1994, Gilmar Carneiro também fez parte da diretoria cassada pela intervenção em 1983. Ele destacou a organização da categoria, que está servindo de modelo para trabalhadores de outros países. “É inimaginável, mas os bancários dos Estados Unidos estão vindo para cá aprender como é que os sindicatos do Brasil são organizados. Nós viramos a meca da política do trabalhador, da política de massa.”

Gilmar lembrou ainda que as manifestações lúdicas realizadas pelo Sindicato são modelo para diversas outras entidades de classe ao redor do mundo e ressaltou os desafios presentes e futuros da categoria. “Nós não podemos nos acomodar. A questão da terceirização é um problema seríssimo. A categoria trata essa questão de uma forma muito tangenciada e a entidade e o governo têm de trabalhá-la com mais propriedade”, disse.

Para o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que comandou o Sindicato de 1994 a 2000, a participação na luta pelos direitos dos bancários durante o período neoliberal do governo FHC lhe concedeu experiência única. Ele citou como exemplo a greve de 1996, quando os banqueiros ofereceram 4% de reajuste e, ao final do movimento, a categoria conquista 10% de aumento salarial.

Berzoini lembrou também de diversos políticos que saíram do movimento sindical bancário, como os ex-governadores Olívio Dutra (RS), Zeca do PT (MS), Ana Júlia Carepa (PA), ou atual senador Wellington Dias (PI), todos integrantes do Partido dos Trabalhadores. “Nós fizemos uma pequena parte da caminhada da classe trabalhadora, nós somos um pedaço da classe trabalhadora e temos ainda uma caminhada enorme pela frente, com desafios extraordinários”, afirmou.  

João Vaccari Neto, sucessor de Berzoini na presidência da entidade de 2000 a 2005, afirmou que a greve nacional de 1985 foi uma das maiores da história do Brasil. “Em 1985, a decisão de fazer a greve nacional dos bancários foi importantíssima porque alavancou o movimento sindical. A partir daí, em três anos nós saímos de dois, três sindicatos para quase a totalidade dos sindicatos filiados à CUT.”

Vaccari lembrou também das dificuldades de negociar qualquer tipo de aumento durante o período de sua presidência, que coincidiu com o ápice do período neoliberal do governo FHC, e das lutas para tentar impedir as demissões em massa decorrentes das privatizações dos bancos estatais. “Na primeira campanha salarial, os banqueiros ofereceram 0% de aumento e nós conseguimos 1,2% de reajuste, o que naquela época foi uma vitória, porque era o auge de período de privatizações e das demissões em massa.”

O deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino presidiu o Sindicato de 2005 a 2011, quando Luiz Inácio Lula da Silva já ocupava a presidência da República, também esteve presente na solenidade e ressaltou importância da unidade da categoria. “Esse foi um dos pilares da condição que nós tivemos até agora, quando nós conquistamos uma série de vitórias como o aumento real nos salários e a ampliação da licença-maternidade.”

Encerrando o evento, a atual presidenta, Juvandia Moreira, frisou a importância da participação das mulheres na política, e como exemplo, citou o pioneirismo do Sindicato, no qual 70% dos cargos da Diretoria Executiva são ocupados por mulheres.

“Por várias vezes encontrei mulheres sindicalistas de outras categorias, de outros ramos, e via os olhos delas brilhando, se enchendo de orgulho por ver uma mulher na presidência do Sindicato, Então o fato de ser mulher é muito importante por causa dessa luta de igualdade e eu sei dessa responsabilidade”, disse Juvandia, que fez questão de parabenizar todos os diretores, militantes e funcionários pelos 90 anos da entidade.

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Rodolfo Wrolli - 1º/4/2013

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