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Bancários da Paulista não aguentam mais metas

Linha fina
Essa foi a principal queixa dos trabalhadores lotados nas agências do principal centro financeiro do país neste primeiro dia de greve nacional; reajuste salarial proposto pela Fenaban foi considerado “ridículo”
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São Paulo – A greve começou de maneira acachapante na região da Avenida Paulista. Neste primeiro dia, pelo menos 52 agências tiveram suas atividades paralisadas e os bancários revelaram toda sua indignação diante das condições de trabalho e da proposta de reajuste salarial oferecida pela Fenaban. As opiniões foram quase unânimes: a pressão excessiva por resultados inalcançáveis são de longe o maior problema para a grande maioria.


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“A greve é válida, é justa para sermos respeitados. As metas são o que mais estão pegando hoje em dia. Tenho de vender 140 produtos por mês”, revelou um funcionário do Itaú. “Para você ter uma ideia da situação, um colega de 22 anos sofreu um infarto no mês passado. Ele estava há três meses sem bater os resultados. Com certeza essa pressão e esse assédio ajudaram”, afirma.

Um colega de profissão do Santander emitiu opinião semelhante. “O salário nem é tão bom perto do que a gente vive no dia a dia. É muito estresse, muita cobrança, muita meta. Sinceramente não sei se compensa investir nessa carreira. Estou cogitando mudar de área”, confessou.

O problema é o mesmo no Bradesco, segundo um funcionário. “O banco tem que ser mais justo com a gente. Só cobram, cobram, cobram e na hora de retribuir oferecem essa vergonha de reajuste. É muita ganância, é como se dissessem que não nos levam a sério”, afirmou, ao lembrar da proposta de aumento salarial da Fenaban: 7,35% (0,94% de aumento real) e os 8% para o piso (1,55% de aumento real).

As metas estão atormentando também os bancários dos bancos públicos, como revelou uma empregada da Caixa. "A cobrança e o assédio são iguais aos bancos privados. Aqui não somos demitidos, mas podemos perder comissão”, afirmou a bancária, que também se indignou com o índice de reajuste proposto: "é ridículo!”. Ela ressaltou ainda a falta de condições enfrentadas na rotina de trabalho. “Se a Caixa quer atingir o planejamento estratégico traçado para 2022, tem que investir mais em infraestrutura e principalmente em mais contratações, além de diminuir a burocracia para concessão de empréstimos como crédito imobiliário”, avaliou.

Mais reinvindicações – Outras reivindicações da Campanha Nacional 2014 também foram citadas por bancários. Uma delas é o 14º salário. “Alguns bancos como o Citibank já pagam esse benefício. O lucro apresentado pelo Itaú comprova que a gente pode e merece receber mais um salário”, afirmou um funcionário do maior banco brasileiro atualmente, tendo apresentado lucro líquido recorrente de R$ 9,502 bilhões no primeiro semestre de 2014.

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A pausa de 10 minutos a cada 50 trabalhados para os  funcionários do autoatendimento foi outra reivindicação lembrada. Um bancário do Bradesco ficou inconformado ao ser informado que a Fenaban rejeitou essa reivindicação. “Queria que o presidente ou algum executivo do banco ficasse um dia no meu lugar, com o pé inchado e a perna doendo, se eles não iam querer essa pausa. É desumano porque o Bradesco tem condições de contratar mais gente para fazer um rodízio no autoatendimento enquanto um está descansando.”

O aumento na PLR foi citado principalmente pelos bancários do HSBC. “O banco é muito rígido com os procedimentos internos, mas ao mesmo tempo fazem manobras contábeis para pagar menos PLR. Acho meio incoerente”, afirmou.  

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Clientes – Os clientes também evidenciaram seu aborrecimento. A princípio, o advogado Danilo Machado, correntista do Bradesco, não compreendeu os motivos da paralisação e revoltou-se porque não conseguia falar com sua gerente. “É uma palhaçada!” Mas mudou de opinião ao ser informado que os bancos lucraram 16,5% a mais do que no ano passado e ofereceram apenas menos de 1% de aumento real aos seus trabalhadores.

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“Acho que deve ter um movimento como esse [a greve]. Os bancos ganham muito em cima dos trabalhadores e das tarifas cobradas. O que eu acho injusto é que os clientes também paguem por esse impasse, sendo que poderiam resolver em negociações.”

Outra cliente que mostrou sua indignação foi a auxiliar de escritório Soraia Lima. “Acho justo fazer greve. Aliás, queria ter um sindicato assim para me defender também, mas quem paga o pato também é a gente. Todo ano é isso. O atendimento já é ruim porque falta funcionário. Cobrar tarifas os bancos sabem fazer. Agora eles precisam aprender a respeitar os clientes.”


Rodolfo Wrolli – 30/9/2014

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