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Plano Temer prevê privatizar ‘tudo que possível’

Linha fina
Caso se concretize o golpe, vice também anunciou auditorias na Caixa, no BB, no BNDES, o que reforça suspeita de que bancos públicos estão na mira
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São Paulo – Depois do Ponte para o Futuro, programa do PMDB que prevê retirada de direitos trabalhistas, o vice-presidente Michel Temer anuncia o Travessia Social, projeto a ser implementado caso o golpe se concretize e o peemedebista assuma a Presidência da República. O plano a ser lançado vazou para a imprensa que divulgou, entre seus pontos, a defesa da privatização: “O Estado deve transferir para o setor privado tudo o que for possível em matéria de infraestrutura”, diz trecho do documento, segundo reportagem de O Globo, em 29 de abril.

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Dias antes, Temer já havia anunciado que uma de suas primeiras medidas, caso assuma a cadeira da presidenta Dilma Rousseff, será fazer uma auditoria nas contas dos bancos públicos, tendo como alvo as operações na Caixa, no Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia nos 13 anos da gestão petista. Proposta idêntica à do programa de Aécio Neves, candidato derrotado nas urnas em 2014.

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Para o movimento sindical bancário não resta dúvidas de que o plano de privatizar estatais e, entre elas, os bancos públicos, volta à ordem do dia, mesmo não tendo sido o escolhido nas últimas eleições presidenciais. “BB e Caixa estão mais uma vez sob a mira de um projeto neoliberal de entrega do patrimônio público, que comandou o Brasil na década de 1990. E isso, como já sabemos, traz consequências graves para a soberania e para economia do país. Além de perdas de direitos para os bancários dessas instituições”, afirma o diretor executivo do Sindicato e empregado da Caixa, Dionísio Reis.

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O funcionário do BB e também diretor executivo do Sindicato Ernesto Izumi é testemunha dos anos 1990. “Houve um processo contínuo de retirada de direitos: baixaram o piso salarial, destruíram o plano de cargos, retiraram benefícios como as cinco faltas abonadas, liquidaram o PAS [plano de assistência social dos funcionários], o banco reduziu sua contribuição para a Cassi de 4,5% para 3% e não negociava com os trabalhadores, levando todas as campanhas para a Justiça e perdas reais para os salários”, relembra o dirigente que entrou no BB em 1985. “Boa parte desses direitos foram retomados gradualmente a partir de 2003, primeira gestão de Lula na Presidência. E o movimento sindical se fortaleceu quando, a partir de 2005, a campanha dos bancários foi unificada, com BB e Caixa na mesa da Fenaban [federação dos bancos]”, destaca o dirigente.

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Redução de pessoal – Os empregos nas instituições financeiras públicas também escorriam pelo ralo. O BB tinha 119 mil bancários em 1994 e esse total foi drasticamente reduzido logo no primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso na presidência do país: o banco terminou 1995 com 94.669 empregados, ou seja, 24.331 para a rua. No último ano do tucano como presidente, em 2002, a instituição fechou seu balanço com 79 mil funcionários.

“Tinham uns PDVs [programas de demissão voluntária] terríveis. Lembro de um em que saíram de uma só vez 15 mil. As pessoas aderiam porque tinham muito medo e o sentimento de desesperança era generalizado no banco. Além do mais, a direção vendeu a ideia de que eles seriam absorvidos pelo mercado, o que não aconteceu”, relata Ernesto.

“Teve muito suicídio, um inclusive dentro da agência. Houve ainda fechamento de agências em todo o país, com transferências compulsórias de funcionários até para outros estados. Houve colegas que, vindos do Nordeste a toque de caixa, queriam dormir no local de trabalho por não terem para onde ir, ou tiveram de alugar casas na favela diante do custo de vida em São Paulo. E quem ficava, trabalhava de 10 a 12 horas por dia”, acrescenta.

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Sucateamento – A situação não foi diferente na Caixa que, em 1994 contava com 65 mil empregados, quadro que caiu para 63.423 em 1995 e, no último ano de FHC, estava reduzido a 55.691 bancários.

Dionísio Reis, mesmo não tendo vivido essa época, conhece a história: “A Caixa passou por um desmonte de seu papel. Foram 10 anos sem contratar, sem aumento real, e foram retirados direitos dos empregados com a criação do técnico bancário. Trabalhadores que, apesar de executarem serviços bancários, não tinham acesso ao mesmo plano de saúde, ao mesmo plano de aposentadoria na Funcef, não podiam parcelar férias, não tinham direito ao Apip [cinco dias de folga por ano]. Ou seja, a terceirização foi imensa na Caixa, abrangendo mais da metade do quadro. E o banco atendia precariamente a população.”

O objetivo de todo esse sucateamento, tanto da Caixa quanto do BB? Prepará-los para a venda. “Eles estavam prontinhos para a privatização”, destaca Dionísio.

“Os balanços de ambos os bancos eram adulterados para dar a impressão à sociedade brasileira de que eram deficitários e deveriam ser vendidos”, lembra Ernesto.

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“E num momento como esse. Onde se tenta retomar o projeto neoliberal por meio de um golpe, os bancários têm de estar atentos e mobilizados. Não podemos aceitar o retrocesso”, defende o dirigente.

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Andréa Ponte Souza – 29/4/2016
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